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Analog Africa
DIsponível sob encomenda
Descrição

Artista - Pinduca; Os Muiraquitãns; Os Quentes de Terra Alta; Janjão; Messias Holanda; Vieira E Seu Conjunto; Verequete E O Conjunto Uirapurú; O Conjunto De Orlando Pereira; Magalhães E Sua Guitarra; Grupo Da Pesada; Mestre Cupijó E Seu Ritmo

Título - Jambú E Os Míticos Sons Da Amazônia

Gravadora - Analog Africa

Ano - 2019

Formato - coletânea / vinil duplo / capa dupla

 

A cidade de Belém, no estado do Pará, no Brasil, há muito tempo é um foco de cultura e inovação musical. Envolvida pela maravilha mística da floresta amazônica e com vista para a vastidão do Oceano Atlântico, Belém é composta por uma cultura diversificada, tão vibrante e ampla quanto a própria Amazônia. Ameríndios, europeus, africanos - e a miríade de combinações entre esses povos - se misturaram e foram pioneiros em gêneros musicais como o carimbó, o samba-de-cacete, o siriá, os bois-bumbás e o bambiá. Embora deixados à margem da história, esses sons exóticos e misteriosamente diferentes se desenvolveriam em um universo paralelo próprio.

Eu nem sabia da existência desse universo até que um DJ e produtor australiano chamado Carlo Xavier me arrastou para dentro desse novo mundo musical. E tudo começou em Belém do Pará. Situada em uma península entre a Baía de Guajará e o rio Guamá, esculpida pela água em portos, pequenos deltas e áreas periféricas, Belém conectou os moradores da cidade com aqueles que vivem nas profundezas da floresta, proporcionando um terreno fértil para o desenvolvimento de uma cultura popular que espelha as poderosas águas que a cercam. Por meio do fluxo contínuo de cultura, idioma e tradição, vários ritmos foram reunidos aqui e transformados em novas formas musicais que eram simultaneamente tradicionais e modernas.

Religiões africanas historicamente marginalizadas, como a Umbanda, o Candomblé e o Tambor de Mina, que chegaram a este lado do Atlântico por meio de escravos da África Ocidental - especialmente do Reino do Daomé, atual República do Benin - deixaram uma marca indelével na identidade da música paraense. Deles nasceriam o Lundun, o Banguê e o Carimbó, estilos posteriormente modernizados por Verequete, Orlando Pereira, Mestre Cupijó e Pinduca com grande sucesso. O sucesso desses pioneiros criaria uma base sólida para uma infinidade de bandas modernas em áreas urbanas.

Conhecida como o "Porto do Caribe", Belém recebia sinal de estações de rádio da Colômbia, Suriname, Guiana e das ilhas do Caribe - principalmente Cuba e República Dominicana - desde a década de 1940. No início da década de 1960, os disc-jóqueis trocavam sem fôlego os discos caribenhos para adicionar esses sons frenéticos das ilhas para animar os foliões. A competição era acirrada para ver quem seria o primeiro a trazer sucessos inéditos desses países. A mania acabou chegando aos repertórios das bandas locais, e os subúrbios de Belém foram tomados pelo merengue, o que levou à criação de sons modernos, como a Lambada e a Guitarrada.

Para atingir um público maior, a música precisava ser transmitida. As rádios começaram a visar o gosto do público convencional e tocavam músicas conhecidas como "música para as massas". O aumento da demanda por essa música levou à criação de gravadoras. O setor fonográfico incipiente de Belém começou quando a Rauland Belém Som Ltd foi fundada na década de 1970. A empresa tinha uma estação de rádio, um estúdio de gravação, uma gravadora e uma grande lista de artistas populares dos gêneros carimbó, siriá, bolero e brega.

Outro aspecto importante para entender como a tradição musical se espalhou em Belém é a aparelhagem sonora: a cultura do sistema de som do Pará. Começando como simples gramofones conectados a alto-falantes presos a postes de luz ou árvores, esses sistemas de som animavam as festas de bairro e as reuniões familiares. Os equipamentos evoluíram de modelos amadores para versões sofisticadas, aperfeiçoadas ao longo do tempo pela sabedoria dos artesãos. As aparelhagens de hoje atraem multidões imensas, lotando clubes com milhares de foliões nos bairros periféricos de Belém ou em cidades do interior do Pará.

A história de "Jambú e Os Míticos Sons Da Amazônia" é a história de uma cidade inteira em sua plenitude. Com casas noturnas agitadas que oferecem os melhores sistemas de som e shows eróticos ao vivo, fofocas sobre o paradeiro de bandas lendárias, cantores transformados em estrelas de cinema, astúcia suprema e a criatividade de uma classe de músicos que não hesitava em arriscar, Jambú é um passeio cinematográfico e estimulante pela beleza e pelo coração do que faz o cantinho paraense da Amazônia funcionar. O balanço dos quadris, a percussão frenética e os metais de banda grande da mistura de carimbó com siriá, as melodias místicas dos tambores amazônicos, a cadência hipnotizante dos corais e a profunda reverência musical às religiões afro-brasileiras forneceram a trilha sonora para as noites sufocantes no bairro dos clubes da cidade.

A música e os contos encontrados em Jambú são histórias de resiliência, triunfo contra todas as probabilidades e, o mais importante, de uma cidade nas fronteiras da Amazônia que sempre soube como organizar uma festa muito boa.

"O jambú é uma planta muito utilizada na culinária amazônica e paraense. Conhecida por ter um efeito estimulante do apetite, ela é adicionada a vários pratos e saladas, mas é um dos ingredientes principais do tucupi e do tacacá, duas iguarias imortalizadas em inúmeras canções de carimbó. Mastigar as folhas da planta Jambú deixa uma forte sensação de formigamento na língua e nos lábios. As comunidades indígenas confiam em suas qualidades anestésicas há séculos como um remédio eficaz contra dores de dente e como cura para infecções na boca e na garganta. Há uma década, uma destilaria de Belém descobriu os efeitos eufóricos da planta do jambú quando combinada com uma bebida destilada à base de cana-de-açúcar - conhecida como cachaça - e criou a agora lendária "Cachaça de Jambú".