Artista - Frank Zappa
Título - Over-Nite Sensation
Gravadora - Zappa Records / Barking Pumpkin Records
Ano - 2024 (1973)
Formato - reedição remasterizada / LP, vinil simples
Em 1973, Frank Zappa e os Mothers estavam mais uma vez em movimento. Após um ano marcante com dois álbuns muito aclamados — Waka/Jawaka (julho de 1972), com sua pegada jazz-fusion, e The Grand Wazoo (novembro de 1972), com uma abordagem de big band — Zappa queria montar uma nova formação dos Mothers, repensar longas estruturas composicionais e explorar as diferenças entre forma e função em suas composições. Ele também decidiu destacar sua própria voz nos vocais principais como nunca antes, além de refinar sua abordagem na guitarra.
Foi assim que nasceu Over-Nite Sensation, lançado em setembro de 1973 — um clássico absoluto. O álbum é visto como porta de entrada essencial para o vasto universo de Zappa, sendo um ponto de partida ideal ao lado de Apostrophe (’), lançado em março de 1974. Também foi o primeiro álbum de Zappa lançado em som quadrafônico, um formato que ele continuaria a explorar em sua carreira visionária.
Over-Nite Sensation marcou não só uma mudança musical dos Mothers, como também trouxe Zappa assumindo quase todos os vocais principais e sendo o único guitarrista. Era uma nova banda com um som inédito, que encontrou ressonância ampla — o disco se tornou disco de ouro em 1976. Com o tempo, praticamente todas as faixas se tornaram favoritas nos shows ao vivo, como “I’m The Slime”, “Fifty-Fifty”, “Zomby Woof” e “Camarillo Brillo”.
A nova formação dos Mothers incluía músicos virtuosos do jazz (George Duke nos teclados, Jean-Luc Ponty no violino, Ralph Humphrey na bateria e Sal Marquez no trompete) e da música erudita (Ian Underwood em instrumentos de sopro e Ruth Underwood na percussão), além dos irmãos Fowler — Bruce no trombone e Tom no baixo. O resultado era um mini-orquestra em formato de banda de rock, usada por Zappa de maneira brilhante, tanto em arranjos novos quanto na adaptação de músicas anteriores como “Cosmik Debris” e “Montana”.
As sessões nos estúdios Bolic Sound e Whitney contaram com participações vocais icônicas. Ricky Lancelotti trouxe interpretações intensas para faixas como “Fifty-Fifty” e “Zomby Woof”. Kin Vassy (do Kenny Rogers and The First Edition) também contribuiu com vocais adicionais. Mas o destaque vai para Tina Turner e as Ikettes, cujos backing vocals — apesar de não creditados — aparecem em diversas faixas, com uma assinatura vocal inconfundível. A gravação no estúdio de Ike Turner, o Bolic Sound, acabou promovendo esse encontro lendário.
O disco passou por várias versões de tracklist em junho de 1973, incluindo faixas instrumentais como “Inca Roads” (regravada com vocais em 1975 no álbum One Size Fits All), “RDNZL” (cuja versão apareceu no Studio Tan de 1978), e “Wonderful Wino” (lançada apenas em 1996 na coletânea The Lost Episodes). A nova edição inclui essas faixas como bônus, com mixes inéditos e restaurados dos arquivos originais.
Zappa e os Mothers saíram em turnê pesada em 1973, tocando em auditórios, teatros e universidades. Os shows traziam composições novas misturadas com clássicos rearranjados — uma abordagem típica de Zappa, sempre priorizando o novo. A nova edição inclui 27 faixas ao vivo nunca antes lançadas, captadas nos shows de março no Hollywood Palladium e maio no Cobo Hall de Detroit, incluindo estreias de faixas como “Cosmik Debris”, “I’m The Slime”, “Fifty-Fifty” e a suíte formada por “Don’t Eat The Yellow Snow”, “Nanook Rubs It” e “St. Alphonzo’s Pancake Breakfast”.
Over-Nite Sensation abriu novas portas comerciais para Zappa, mas ele nunca cedeu ao apelo do mainstream. Seguiu sua própria bússola artística durante toda a década de 1970 — e além. A edição comemorativa de 50 anos coloca um carimbo definitivo nessa fase irreverente, afiada e acessível de sua obra, selando seu legado como uma das figuras mais ousadas e inventivas da música do século XX.
