Artista - DJ Anderson Do Paraiso
Título - Queridão
Gravadora - Nyege Nyege Tapes
Ano - 2024
Formato - LP, vinil simples, transparente
Anderson do Paraíso é um dos DJs e produtores mais influentes e seminais por trás do som downtempo e dark baile funk da cidade de Belo Horizonte. Aos 27 anos, o artista ganhou notoriedade com músicas que trazem uma atmosfera fantasmagórica incomum, cheia de suspense e mistério, para o turbilhão frenético da famosa batida brasileira.
Anderson começou a produzir música em seu quarto em 2012, tendo como referência o funk Tamborzão do Rio de Janeiro. Mas seu som passou por uma profunda transformação entre 2015 e 2016, quando ele começou a frequentar o Baile do Serrão, a festa de rua do Aglomerado da Serra - a maior favela de Belo Horizonte e o segundo maior conjunto de favelas da América Latina.
Quando Anderson começou a frequentar o Baile da Serra, as festas de funk em Belo Horizonte também estavam passando por uma reformulação em sua geografia e som. A cidade tem um cenário de funk cuja história remonta à década de 1980. No entanto, até os anos 2000, os principais bailes aconteciam em locais fechados, em quadras de clubes esportivos, como o Baile da Vilarinho. Naquela época, a música era mais próxima do hip hop, com os MCs cantando versos sobre os tempos difíceis do bairro, a violência, o crime, a esperança e a fé em dias melhores.
No entanto, em meados da década de 2010, os bailes estavam surgindo nas ruas das favelas. E foi aí que surgiu uma musicalidade completamente nova. Os MCs se concentravam em versos sobre sexo, drogas e diversão, enquanto os beatmakers passaram a investir em arranjos mais minimalistas e ambientais, com andamento lento e cheio de reverb, destacando batidas com frequências altas, como se ouve em "Sadomasoquista" e "Duvida Não Letícia". Esse é o som do Funk BH (ou Funk Mineiro), uma cena que vem influenciando músicos em escala nacional, à medida que DJs e MCs de Belo Horizonte acumulam hits nas paradas de streaming e viralizam no TikTok.
Anderson do Paraíso - o "queridão", como também é conhecido - é um dos arquitetos sonoros dessa música. Sua assinatura é o contraste de elementos eletrônicos (como os sons robóticos de "Todas Elas ao Mesmo Tempo" e os chimbais de trap em "Pincelada de Angolano") com instrumentos de música clássica, como o piano em "Se Faz de Santinha", os violinos em "Aula de Putaria", os backing vocals de soprano em "Quarentena Cheia de Ódio" e os tímpanos usados como caixa em "Blogueira Que Virou Puta". "União dos Rlk" é uma colaboração com dois outros produtores, Ph da Serra e Vitin do PC, que mostra uma intrincada arte sonora e uma visão futurista do gênero ao misturar diferentes tipos de batidas de baile funk em uma única faixa.
O funk brasileiro ficou conhecido internacionalmente por sua energia caótica. No entanto, a música de Anderson tem uma abordagem inovadora e pouco ortodoxa, que reduz seus elementos para um som minimalista radical, enfatizando o silêncio para criar um suspense cinematográfico. "Blogueira Que Virou Puta" mostra a voz sussurrada de MC Paulin do G flutuando em uma estrutura refinada e esparsa que oscila entre a sensualidade e o terror, enquanto os sinos assombrados de "Chama as Suas Colegas" e o coro de "Ultimo Medo do Ano" evocam uma aura assombrada de baile funk. E, ainda assim, as pessoas criam maneiras diferentes de dançar ao som desse som, ampliando os limites da pista de dança.
