Artista - Vários
Título - Nigeria 70 (The Definitive Story of 1970's Funky Lagos)
Gravadora - Strut
Ano - 2016
Formato - coletânea / LP, vinil triplo / com compacto 7"
Compilação de vinte faixas raras e em sua maioria inéditas do mundo brilhante e ousado da música pop nigeriana e da cultura de clubes do início dos anos 1980. Impulsionada por um boom do petróleo explosivo e o retorno à democracia após uma série de ditaduras militares, a economia da Nigéria nos anos iniciais da década de 1980 foi espelhada por sua indústria fonográfica, com inúmeros jovens artistas e grupos invadindo as ondas do rádio e as pistas de dança da capital e além. Era uma nova forma de música pop, brilhante e ousada, nascida das cinzas da disco e do funk do final dos anos 1970 e, assim como na América, foi a trilha sonora de uma nova geração para a qual dinheiro, estilo e flerte superavam a psicodelia exagerada da década anterior. Ansiosos para soar o mais americano possível, sem nenhum vestígio da fervorosa busca pelo afro-beat, afro-rock e pensamento afrocentrado que os anos 1970 haviam produzido, uma nova geração de jovens artistas e performers virou as costas para suas raízes culturais na música e procurou um novo tipo de estrelato e fama, firmemente conectados ao mundo brilhante e estiloso dos anos 1980, que estava explodindo nos EUA e na Europa. As calças boca de sino e os sapatos cubanos dos anos 1970 começaram a desaparecer; em seu lugar, surgiram ternos elegantes, mangas arregaçadas, gravatas borboleta, macacões, jaquetas de couro, cabelo engraxado e uma clara referência estilística a Michael Jackson.
As faixas mais antigas da coletânea estão firmemente enraizadas no som disco profundo de 1979 e 1980, antes de progredirem para o boogie e o pop que caracterizavam os anos de 1982 a 1984: vocais falsetes, sintetizadores, slap-bass, palmas e uma ênfase nítida no groove. Comandado por um punhado de produtores lendários que haviam começado sua carreira nos estúdios e grupos dos anos 1970 (Jake Sollo, Lemmy Jackson, Tony Essien, Odion Iruoje), ao lado de alguns rostos novos (Nkono Teles e Tony Okoroji), a cena foi liderada por uma nova geração de jovens cantores, tanto masculinos quanto femininos, e com a economia florescendo, as vendas de álbuns estavam no auge. Era a era da celebridade, do DJ de clube móvel e, com equipamentos de som muito mais avançados, a música gravada rapidamente começou a substituir as bandas ao vivo nas discotecas e clubes de um Lagos em rápida expansão. Esses eram lugares onde uma mistura perfeita de música americana e local tocava a noite toda – uma pressão cada vez maior para que as gravações nigerianas se comparassem às ofertas do exterior, levando alguns produtores e artistas a gravar em Londres ou nos EUA, apesar de Lagos ter os melhores estúdios da África Ocidental.
Com uma discussão interminável sobre o que a 'World Music' pode ou não ser e em um momento em que a influência da música africana, latina e caribenha é amplamente aceita como um ingrediente essencial na formação da disco e da proto-house music, esta compilação espera fazer um forte argumento para o capítulo nigeriano da história. Esta é música disco-boogie-pop que, por acaso, vem da Nigéria e, como tal, merece estar na seção correta da loja de discos e não nos limites restritivos do gueto da ‘World Music’, apesar de sua proveniência geográfica. Ecos do vasto compêndio de sons dos anos 1960 e 70 da maior indústria fonográfica da África Ocidental estão presentes, se você ouvir com atenção, assim como a Soca e a música latina ecoam na disco e no soul da cidade de Nova York, mas esta não é uma música que merece ser marginalizada só por causa de sua origem.
Muitos dos álbuns originais de onde essas faixas foram retiradas alcançam preços exorbitantes online devido à sua raridade, e por isso é com grande prazer que apresentamos uma seleção aqui que evoca uma era dourada no histórico da música nigeriana. Talvez não seja para os puristas que acham que sabem como a música africana deve soar, mas relaxe... esta música deve fazer você se mover, fazer você sorrir (e, esperançosamente, fazer alguns de vocês relembrar sua juventude)... é para isso que foi feita.
